Saia da caverna

 

No último ano estive vivendo dentro de uma caverna chamada depressão após o falecimento da minha mãe. Foi uma época obscura, mas não me envergonho, pois foi dali que conheci a verdadeira face de Deus e hoje posso estar compartilhando com vocês um dos meus aprendizados. O maior deles foi o episódio de Elias registrado em 1 Reis 19.

A experiência de Elias na caverna em 1 Reis 19 está entre as passagens da Bíblia que mais evidenciam a fragilidade humana.

Elias foi um dos homens da história da humanidade que presenciaram de forma mais extraordinária as claras manifestações do poder de Deus. Ele viu morto ressuscitar pelo poder divino através de seu ministério; viu Deus controlando diretamente a natureza secando a terra e depois mandando chuvas torrenciais; e viu fogo descer do céu da parte do Senhor. Mas depois de tudo isso ele ainda tentou fazer de uma caverna o seu lar.

Talvez Elias estivesse esperando que as demonstrações do poder de Deus no monte Carmelo ocorridas no capítulo 18 do primeiro livro de Reis produzissem quebrantamento em Jezabel e Acabe. Mas não foi isso que aconteceu. Em vez de arrependimento, a perversa esposa de Acabe ameaçou seu porta-voz em Israel, o profeta Elias.

Então diante desse cenário pode ser que Elias tenha julgado ter falhado em sua missão como profeta e fugiu de Jezreel em direção a Berseba. Nesse ponto a passagem não mostra Elias consultando ao Senhor; muito menos se recordando das experiências grandiosas que ele havia tido ao longo de seu ministério. Porém ele desviou os olhos da fé e os colocou sobre as circunstâncias. Seu comportamento foi tão irracional que ele, um homem caracterizado pela coragem, fugiu de um inimigo derrotado.

Em meio ao deserto, Deus envia provisão para Elias se aliemntar atraves dos seus anjos. Com aquelas refeições Elias caminhou quarenta dias e quarenta noites até o Monte Horebe. Quando chegou lá, ele entrou numa caverna, onde passou a noite. A situação emocional do profeta era tão complicada que Elias apresentou depressão. Ele estava exausto e abatido, disposto a desistir de seu ministério e até de sua vida.

Mas foi na caverna que Deus falou com Elias. Em vez de repreendê-lo, o Senhor apenas lhe perguntou: “Que fazes aqui, Elias?” (1 Reis 19:9). No entanto, Elias  tentou se justificar em sua resposta, mostrando uma mistura de orgulho com pena de si mesmo. Ele alegou ter sido um servo fiel e zeloso pelo Senhor, enquanto os israelitas quebraram a aliança. No fim, ele acabou julgando estar sozinho e sendo perseguido.

Então Deus lhe ordenou que saísse da caverna para o monte e se colocasse perante o Senhor. A Bíblia diz que veio um vento muito forte, mas o Senhor não estava no vento. Depois veio um terremoto que abalou o monte, mas o Senhor não estava no terremoto. Na sequência veio um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. Por último o texto bíblico diz que veio “um ciclo tranquilo e suave” (1 Reis 19:12). Foi então que Elias saiu e se colocou à entrada da caverna. Nesse momento ele ouviu a voz do Senhor.

Como um homem assim foi do auge ao fundo do poço? Do monte da vitória para a caverna do desalento?

A Bíblia é um livro diferente dos demais que mostram heróis perfeitos. Ela não esconde as falhas, erros e as limitações dos homens que foram usados poderosamente pelo Senhor.

Elias não se atentou à vontade do Senhor. Ele escolheu olhar para as circunstâncias mesmo tendo experimentado das maravilhas do Pai. Outro exemplo e encontrado em Mateus 14:22-33, onde Jesus desafia Pedro a caminhar sobre as águas, entretanto o mesmo começa a afundar pois olhou pata a situação ao invés de manter os olhos em Cristo. Quando os servos de Deus saem da vontade dEle, ficam sujeitos a cometer todo tipo de insensatez e a falhar naqueles que são seus pontos mais fortes.

A caverna foi um local de refúgio para Elias em meio ao deserto, mas também um lugar de questionamentos. A caverna fez ele se sentir sozinho e desamparado e, consequentemente, a duvidar do seu chamado. Elias olhou apenas para seu aparente fracasso e não para os planos de Deus para aquela situação. A caverna promoveu uma falsa ideia de segurança, onde ele poderia ficar escondido ali das suas ameaças de morte, levando ao comodismo. Naquele momento, Elias estaria disposto a desistir do sei chamado para viver numa caverna. Porém é em nossos momentos mais vulneráveis em que o Senhor nos chama a sair da caverna.

Quando o Senhor ordenou que Elias saísse da caverna, três acontecimentos estrondosos aconteceram: a ventania, o terremoto e o fogo. Mas o Senhor não estava no meio desses acontecimentos. A palavra do Senhor veio a Elias na calmaria, com uma voz mansa e suave. Muitas vezes esperamos por grandes acontecimentos e demonstrações do poder de Deus, quando na verdade Deus pode estar querendo falar conosco através de um “ciclo suave e tranquilo”.  Apesar de seu momento de fraqueza, Elias teve os ouvidos sensíveis o suficiente para ouvir a voz suave do Senhor.

Naquele momento, o Senhor fez Elias saber que ele não estava sozinho, mas havia cerca sete mil fiéis em Israel e deu uma missão a ele: ungir Hazael como rei da Síria, a Jeú como rei de Israel e a Eliseu como profeta (1 Reis 19: 15-18). Elias então decidiu se reerguer para realizar aquilo que o Deus tinha confiado em suas mãos e assim foi reavivado.

A experiência de Elias na caverna nos serve de exemplo quando estivermos em nossas próprias cavernas. Qual seria sua caverna? A depressão? A ansiedade? A dependência emocional? A mentira? O luto?

Muitas vezes somos fracos, vulneráveis e inconsequentes, mas o Deus Todo-Poderoso é imutável e enxerga além das circunstâncias que nos abalam Como diz o Salmo 103: 13,14, o Senhor é como um pai que se compadece de seus filhos. Ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó.

Deus cuida de nós e nos restaura, a ponto de entendermos que o lugar mais seguro que podemos estar não é dentro de uma caverna, mas dentro de sua vontade. Que possamos ter os ouvidos atentos a voz do Senhor, sair de nossas cavernas para nos refugiarmos no esconderijo do Altíssimo, onde podemos descansar à sombra do Onipotente (Salmo 91:1).

Por: Alessandra Nascimento 

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